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Por Antônio Carlos Queiroz, ACQ*

Emily - ousadia e subversão da linguagem;

Emily - ousadia e subversão da linguagem

Recentemente, ao tentar traduzir um poema de Emily Dickinson de 1862, percebi, na sua leitura vertical, que a peça se parece com um tapete ou uma toalha bordada. Além das rimas, algumas apenas visuais, saltaram aos olhos e aos ouvidos padrões gráficos e fonéticos ao longo do texto.

Três clusters repetem-se nas quatro linhas da primeira estrofe: “Bird, did, bit, ate”, “down, know, Angle, fellow” e “Walk, saw, Worm, raw”.

A segunda estrofe bisa a expressão “And then” na primeira e na terceira linha, e a palavra “Grass” da segunda linha rima com “pass”, da quarta..

Na terceira estrofe, destacam-se na mesma posição quatro verbos flexionados no particípio passado: “glanced, hurried, looked, stirred”. A expressão “rapid eyes” da primeira linha joga foneticamente com a expressão “like frightened” da terceira. De maneira imperfeita, a palavra “abroad” da segunda linha rima com o vocábulo “Head” da quarta linha. Mais próximos, entretanto, ficam as palavras “abroad” e “thought” (terceira linha). E é interessante notar as rimas visuais de “Beads” (terceira linha) com “Head” (quarta).

Jogos semelhantes ocorrem nas duas últimas estrofes. Por outro lado, chama a atenção esse tipo de jogo também na leitura horizontal do poema, como as consonâncias com “d” na primeira linha da segunda estrofe (he drank a Dew) ou com “p” na última linha do poema (Leap, plashless).

Os músicos diriam que há uma leitura contrapontística linha a linha do poema, e uma leitura vertical harmônica. É de se imaginar os efeitos sonoros desse poema se ele fosse explorado por um coral.

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