Por Carlos Marcelo*
durante a construção de brasília/ o tempo não existia.
A cada poema, letras minúsculas e poucas palavras — suficientes para deslocar certezase transportar o leitor a outra dimensão, não-lugar onde passado, presente e futuro se fundem e a história oficial se turva diante das visões do autor. Então começa o bombardeio de imagens. Os profetas silenciam, o ufanismo se desmancha. Aos poucos, a capital desmorona dentro do leitor. Em meio às ruínas, o poeta-arqueólogo junta peças da memória e do desejo para reinventar a cidade inventada. Convém, contudo, não se iludir ao longo da vertiginosa jornada de sucessivos alumbramentos; se o ponto de partida é a Ilíada de Homero e esgares de Clarice e Drummond surgem ao longo do percurso, o guia não enleva nem amacia — prefere cegar nossas retinas com o que sobrou da própria perplexidade. Não sem humor, percorre antigas civilizações para confrontá-las com a cidade perdida dos candangos. Emudece oráculos, desenterra carimbos, decifra esfinges, escracha burocratas, desmonta maquetes.
teu passado sou eu/ e tua tradição começa aqui.
Impiedoso, amoroso, amargurado, épico, estoico, apocalíptico, desintegrado; dono do seu labirinto. Eis Nicolas Behr, o homem que pega Brasília pelas asas e a arremessa contra os mitos.
* Carlos Marcelo, editor do Correio Braziliense, escreveu este texto que se econtra na orelha do livro de Nicolas Behr.
Deixe um comentário